quarta-feira, 30 de junho de 2010

O Crime!

Sorvendo um amargo, deparo-me a olhar uma luz no improvisado condeeiro ao fundo da sala.
São longos os minutos de devaneio. A ponto mesmo de fazer gelar o mate. Um crime!
Aquela vela solitária, sobre formas geométricas (um losango separando círculos, um côncavo, outro convexo), remete meu pensar a beleza de textos bem produzidos.
É a poesia presente em Roberto Carlos, Chico, Vinícius, Ramil (o Vitor, que tem qualidade) e tantos outros que me emudece a caneta. Torna sofrível um ato simples de escrita. Simples? Pois, por certo, nada de simples tem um processo que foge ao singelo ato de imprimir tinta à celulose.
O lume daquele pavio me faz recordar a tamanha qualidade em escritas que, utilizando-se apenas de fonemas, nos remetem aos sentimentos do autor. O "cálice" contra a ditadura, com todas suas possíveis interpretações. A "cavalgada" que reveste de poesia e aceitação a descrição de um ato sexual. O louco inventor que implora ao amigo a morte, posto que o frio lhe é pior castigo.
Mas nada disso nos impacta, se a luz do conhecimento de mundo estiver encoberta pelas trevas da ignorância e pela mesquinhez de pensamento. Sobretudo, nada, absolutamente nada disso tem significado se a cuia esfria e a alma gela com o descuido do cevador.
__________________________
* Texto criado para o curso de Leitura e Produção Textual, inspirado no exercício proposto pelo professor Luis Amaral, que consistia em observar uma vela acesa e escrever sobre a bucólica cena.

Nenhum comentário:

Postar um comentário