quinta-feira, 11 de março de 2010

Mais do mesmo

Anteriormente falei da sofrimento da "pobre imprensa". Ficou faltando algo, anunciado naquele post. O que seria da imprensa se tivesse que noticiar o que há de bom?
Tá, eu explico. Usarei dois exemplos recentes e emblemáticos. Os terremotos no Haiti e Chile.
Conversando com um haitiano que estuda aqui na UFPel (agora foi pro Museu Nacional fazer doutorado), tive uma outra perspectiva do que estava realmente ocorrendo naquele país. Segundo ele, o terremoto devastou grande parte de Porto Príncipe (capital nacional). Mas foi isso. Não destruiu o país. Nem mesmo toda a capital. Por motivos mais ou menos óbvios, a grande imprensa trata do assunto, durante muito tempo e de forma muito repetitiva, dando ênfase ao que há de errado. A pobresa, a falta de estrutura, os saques, a "barbárie" daqueles "incivilizados". Nisso tudo tem preconceitos mil, inclusive o de cor da pele.
Por outra sorte, quando a grande imprensa (reproduzida até por jornalecos do interior do interior do país) trata do assunto Chile, adivinhe como é? Os saques, a falta de apoio do governo, um homem carregando uma geladeira, etc.
Não que essas informações não sejam importantes. Mas e se o destaque maior fosse para a solidariedade. A descoberta de sobreviventes. A retomada das normalidades. E tantos outros exemplos de normalidade e recomeço.
Uma vez ouvi a teoria de que nos noticiosos dá-se tanto espaço para o "ruim" para que nós fiquemos angustiados, tensos, preocupados. Isso vai nos deprimindo e nos leva a dois lugares (bem complementares, aliás): a geladeira e às compras. Sabe que isso não é de todo improvável!
Tem mais uma coisa. A necessidade desesperada em noticiar o "mal" nos formata. Quantas vezes nos pegamos buscando o que há de bom num fato? Estamos tão acostumados com o que há de ruim que nem mesmo tentamos modificar essas coisas. A política é tão ruim que não devemos nos importar com ela. Não vai mudar mesmo. Mas e os exemplos bons? Ora, o leitor já deve saber que bons exemplos são maus exemplos. Já pensou se o cidadão resolve cobrar uma boa atuação do político, policial, médico, professor, etc.?
Olha que para isso esse mesmo cidadão teria que comprometer-se com essa mudança. Então, quer saber, tá bom assim né. Não nos mexamos. Não mudemos nada. Aceitemos a formatação.
Ou não!

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